Poeta & Poemas: Bairro dos Outros

Põe quanto És no Mínimo que Fazes

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta viveRicardo Reis, in “Odes”

Amo o que Vejo

Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que também, nada sabem.Ricardo Reis

 

“Aos que a Felicidade é Sol, Virá a Noite
Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja

Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada ‘spera
Tudo que vem é grato. “

“Não tenhas nada nas mãos,
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.”

Leave a comment